BRUM: DE SENADOR A PRESIDENTE
Roberto Brum foi contratado em Janeiro último pela briosa para ocupar uma posição que era deficitária no plantel: a de médio defensivo. Muitas vozes se levantaram na altura contra a entrada de mais brasileiros no plantel. O habitual. Os profissionais da crítica que só vêem o facto de o jogador ser ou não português, se é ou não estudante, etc. Os críticos "profissionais" não se preocuparam em saber o percursso futebolístico dos reforços, nomeadamente Brum e Marcel, que trouxeram a qualidade que faltava ao grupo de trabalho academista. Não se preocuparam em saber que Brum, aos 26 anos, só tinha conhecido dois clubes como profissional de futebol: o Fluminense e o Coritiba; não se preocuparam em saber que Brum era o capitão do Coritiba; não se preocuparam em saber que era chamado de "senador do Coritiba" devido ao seu comportamento dentro e fora dos relvados. Brum chegou e revolucionou o meio campo da Briosa dando-lhe a força e o querer que nunca se tinham visto nesta época. O que é que interessa se um atleta com estas qualidades é brasileiro, português ou chinês? Será que as mentalidades de alguns adeptos não têm que evoluir? É que já estamos no século XXI, não sei se eles já se deram conta disso...
Roberto Brum deu uma entrevista ao jornal "O Jogo" através da qual se consegue perceber porque é que ele se entrega tanto no campo de jogo, ajudando de forma decisiva a equipa. Quando foi apresentado como reforço da Briosa, Brum pegou na lenda da Fénix, uma ave que consegue renascer das próprias cinzas, e transportou-a para a situação da Académica por forma a exemplificar a sua crença na manutenção na Superliga. Questionado como se encontra nesta altura a fénix de Coimbra, Brum responde que "já está a criar penas, bico forte e garras afiadas e começa a querer sair do ninho. Continua em cima da montanha, mas preparada para alçar o primeiro voo, quando a equipa sair da zona de despromoção. Já tivemos duas oportunidades para dar o primeiro voo, contra o Setúbal e o Marítimo. Conseguimos duas apresentações belíssimas, frente a duas equipas de alto nível, mostrando que renascemos". Quanto ao jogo com o Marítimo, Roberto Brum afirma que "sabíamos das dificuldades que íamos enfrentar, os números não mentem, o Marítimo ainda não tinha perdido em casa. Conseguimos vencê-los durante 89 minutos, mas chegaram ao empate". Infelizmente o atleta não completou a partida no Estádio dos Barreiros, uma vez que foi expulso pelo árbitro. Esta ocorrência é explicada pelo centro-campista: "O primeiro cartão foi injusto, porque o gandula (apanha-bolas) mandou a bola para longe e não a apanhei. O árbitro pensou que estava a perder tempo. Depois, fiz uma falta normal e ele mostrou-me o segundo cartão". Devido a esta expulsão, Brum irá falhar a difícil partida da próxima jornada frente ao Rio Ave. A este respeito afirma que "ninguém é insubstituível. Quando uma equipa encontra o rumo certo, até pode lançar-se um júnior, que tudo irá sair bem. Por isso, vamos ganhar ao Rio Ave". É nestas atitudes que se percebe a força interior deste atleta que se transmite ao que ele faz durante os jogos. Ainda falando acerca da recuperação da académica, Brum faz outra analogia, desta feita com o surf: "O surfista, quando está no mar, deixa passar algumas ondas antes de apanhar a ideal para fazer manobras. A Académica também esteve à espera, agora está em cima da onda certa e não pode cair. Estamos com o depósito cheio do combustível do futebolista, que é a confiança. Antes, as equipas que defrontavam a Académica entravam com a certeza dos três pontos, mas hoje já nos respeitam e sabem que se levarem um ponto já é bom. Não vamos perder mais até ao fim, vamos evitar a descida e para o ano vamos fazer um grande campeonato".
Para muitos brasileiros, quando chegam ao futebol europeu, coloca-se o problema da adaptação que, em alguns casos, se arrasta por muito tempo levando a que, muitas vezes, se ponha em causa a qualidade dos atletas. Para Roberto Brum esse problema não se pôs, podendo dizer-se mesmo que "pegou de estaca" no meio campo da Académica. Segundo ele esta situação fica a dever-se a vários factores: "Grandes atletas que jogaram em Portugal, como o Ricardo Gomes e o Duílio, que foi meu treinador e é meu padrinho de casamento, diziam-me que não teria dificuldades, devido às minhas características de jogador de colectivo. Os meus colegas, como Zé António e o Nuno Luís, disseram-me: 'Você veio mesmo para nos ajudar'. O Zé Castro, por exemplo, afirmou o seguinte: 'Quando soubemos que vinha um brasileiro para jogar à frente da defesa ninguém esperava que fosse alguém como você'. Isto é óptimo de ouvir e sinto a confiança de todos. Quando cheguei, um funcionário da Académica, o Rui Gonçalves, esteve comigo a tratar de documentos e ele estava muito triste, até tomava calmantes. Ele ama a Académica e percebi, no meu coração, que teria de ajudar a equipa e fazê-lo parar de tomar calmantes".
Ainda acerca dos problemas de adaptação de alguns jogadores brasileiros foi-lhe colocada a questão de Roger, que foi seu companheiro no Fluminense, clube que Brum representou durante 11 épocas. Para ele o problema de Roger reside nas acções defensivas. "Ele pode decidir uma partida a qualquer momento, mas não pode ter tarefas defensivas. No Fluminense, eu corria e ele jogava tranquilo. O pai dele até me dizia: 'Se o Roger tivesse o seu pulmão seria o melhor jogador de todos os tempos'".