ACADÉMICA 3 - V. SETÚBAL 3
VINGADA "OFERECEU" O RESULTADO AOS SADINOS
Parecia que a equipa técnica da Briosa, durante a 2ª parte, tinha entrado num estado de letargia inexplicável. Parecia que Nelo Vingada era a única pessoa presente no estádio que não conseguia ler o jogo como se impunha. Só a ele se deve o facto de a Briosa não ter conseguido ficar com os três pontos na melhor exibição da temporada, em especial na 1ª parte, período em que a equipa conseguiu trocar a bola com efectividade e jogar em progressão, sempre com perigo para o adversário. Para este jogo, Vingada optou por jogar num 4x3x3 bem definido, sendo que na baliza continua o inevitável Pedro Roma; o quarteto defensivo foi preenchido por Nuno Luís, Zé Castro, Zé António e Tixier; Brum, Hugo Leal e Paulo Adriano actuavam no meio campo; e o ataque ficava entregue a Kenedy (do lado esquerdo), a Luciano (do lado direito) e a Marcel (no centro). Com este esquema bastante atrevido a equipa conseguiu pegar no jogo desde o apito inicial de Hernâni Duarte e encostar o Vitória de Setúbal à sua linha defensiva. Durante a 1ª parte (e durante quase todo o jogo) Pedro Roma foi mais um espectador do que um interveniente directo na partida. Luciano dinamizava o jogo através da sua velocidade e voluntarismo pelo lado direito. Paulo Adriano e Hugo Leal jogavam muito bem, imprimindo o ritmo e controlando as operações no centro do terreno, enquanto Brum se ocupava de "secar" Jorginho que quase não tocou na bola durante a etapa inicial do encontro. Até Kenedy, apesar do peso excessivo e da falta de velocidade, conseguiu dinamizar o seu flanco e criar jogadas de perigo. O ínevitável e justo golo da Briosa surgiu depois de uma boa jogada de ataque em que Nuno Luís consegue um excelente centro (finalmente vê-se Nuno Luís a jogar) ao qual Paulo Adriano (não deixando os seus créditos de homem que aparece nos jogos decisivos em grande, por mãos alheias) deu o melhor seguimento. A Académica continuou a pressionar durante toda a 1ª parte e podia (e devia) ter sentenciado a partida ainda antes do intervalo. Paulo Adriano rematou a bola à trave da baliza do Setúbal e Kenedy (após excelente jogada de Luciano) remata ao poste com a bola a "passear-se" pela linha de golo sem a ultrapassar. Assim se chegava ao intervalo, com a sensação que o um a zero "sabia" a pouco.
A 2ª parte iniciou-se como tinha terminado a 1ª, isto é, a Académica a pressionar e o Setúbal a aguentar-se mal. Assim, não surpreendeu o dois a zero marcado por Kenedy depois de uma jogada de insistência do ataque. A alegria nas bancadas era muita. Ninguém podia suspeitar do que se seguiria, uma vez que a Briosa dominava a partida como queria. Mas José Rachão, como os academistas bem sabem, é um treinador que não se importa de arriscar e foi isso mesmo que fez. Reforçou a frente de ataque e passou a jogar com dois pontas de lança "em cunha", ajudados ainda por Jorginho e Bruno Moraes, isto é, quatro avançados para quatro defesas da Briosa. Foi aqui que Vingada adormeceu inexplicavelmente. Aliado ao menor fulgor físico de Hugo Leal e de Paulo Adriano a Académica caiu a pique e o jogo era do Setúbal. Jogar na defesa com um para um é extremamente arriscado e não se compreende quando a equipa está em vantagem. É de louvar quando a equipa está a perder. Aí sim, é perfeitamente defensável assumir esse tipo de risco. Quando se está a ganhar por dois a zero, não se percebe. O jogo era todo do Setúbal e a Briosa já não dominava as situações. O golo do Vitória surgiu com naturalidade, através de Meyong que se antecipou bem a Zé António que já não sabia quem devia marcar, tal era a quantidade de avançados que lhe apareciam pela frente. Mesmo após mais este aviso, Vingada mantém-se impávido e sereno, não mudando a estratégia. Parecia a orquestra do Titanic, que continuava a tocar com o navio a afundar-se. O empate era inevitável e aconteceu por intermédio de Bruno Moraes, num lance que me deixou muitas dúvidas no estádio, que ainda não consegui dissipar. Este golo (tal como o terceiro) foi devido ao facto de um dos avançados ter ganho no "um para um" conseguindo libertar a bola para um companheiro que se desmarcava. Uma jogada óbvia e que só acontece porque não havia nenhum elemento para as "sobras" na defesa academista. Mesmo com este revés, a Briosa reagiu, o que denota bem a força psicológica do balneário. Luciano (mais uma vez) consegue através da sua raça ganhar uma bola na linha final e assiste de forma primorosa Dário que, com um espectacular remate de "moinho" faz um excelente golo, no dia do seu vigésimo oitavo aniversário. Já faltavam poucos minutos para o final e a alegria voltava às bancadas do "Cidade de Coimbra". Mas Vingada parecia que não queria vencer o jogo e nem nos últimos minutos mandou alguém para o centro da defesa para segurar o resultado. Como não colocou Danilo a jogar, o central que tinha no banco, podia e devia ter colocado Tixier no centro da defesa, mandando recuar Fredy para o lado esquerdo da defesa. Em vez disso, manteve tudo como estava e, como o Setúbal não baixou os braços, o golo do empate surgiu no último minuto, por intermédio de Igor.
Em suma, foi um jogo espectacular com algumas jogadas de excelente recorte técnico que demonstra bem que a Académica tem uma boa equipa e que os seus índices psicológicos estão em alta. O empate só se explica pela incrível apatia e falta de reacção aos acontecimentos dentro de campo por parte da equipa técnica da Académica. É inadmissível que um treinador com a experiência de Nelo Vingada perca dois pontos desta maneira. Ainda mais inadmissível é quando a equipa está a subir de rendimento e, mais uma vitória neste jogo, seria decisiva para a relançar definitivamente para a manutenção na Superliga. Só espero que estes dois pontos não venham a fazer falta nas contas finais!